26 janeiro, 2025

A importância de encontrar um grupo para chamar de seu

Hoje estive em um encontro de psicólogos que vivem no Norte de Portugal. Foi a primeira vez que estive com outros colegas de profissão em outro país. Passamos horas falando de nossas histórias, dificuldades e alegrias em um lugar onde a Psicologia enfrenta seus entraves e desafios.

Ser psicólogo é, muitas vezes, um ofício solitário. É estar presente e acolher o sofrimento do outro, mas sem ter com quem dividir suas próprias angústias. Soma-se a isso o fato de ser imigrante e ter deixado para trás a sua rede de apoio: amigos cultivados por uma vida inteira, colegas de trabalho de diferentes lugares, ex-professores, ex-alunos, supervisionandos... Um grupo construído ao longo de anos de relações profissionais ou de amizade.

Por isso, fazer parte de um grupo no exterior significa tanto para quem participa dele. No dicionário, o termo "coletivo" significa um conjunto de indivíduos que formam uma unidade em relação a interesses, sentimentos ou ideias comuns. Estamos falando de pessoas que escolheram estar juntas e desenvolveram um sentimento de pertencimento. Eu pertenço às ideias e afetos que circulam neste grupo de pessoas. Não se trata de todos terem a mesma opinião sobre tudo. Muito pelo contrário: neste coletivo, as diferenças são respeitadas.

No coletivo de psis, existem diferentes abordagens, formas de atuação profissional e opiniões sobre uma série de questões que envolvem o exercício da profissão. E, mesmo assim, o pertencimento é soberano. Naquele espaço, sei que minha existência será vista e respeitada. Ali, terei voz e escutarei outras vozes.

Os psicólogos imigrantes não vivenciam as mesmas experiências migratórias. Ninguém o faz, nem mesmo os membros de uma mesma família. Mas todos ali sabem o que é estar em um país diferente, buscando um espaço de atuação e a validação de suas competências.

Hoje foi um dia em que me senti pertencente a um grupo novamente. Em outro país, sei que isso é raro. Foi um privilégio.

16 janeiro, 2025

O luto do diploma

Na decisão de mudar de país, o sentimento de luto é natural. Junto do planejamento migratório, surge também a necessidade de preparo emocional para lidar com as perdas. Mas há um tipo de luto especialmente difícil: o luto do diploma.

Vou compartilhar um pouco da minha experiência com este tema:

Estou vivendo uma recolocação profissional pela primeira vez após dez anos e em um país diferente. É um desafio que, muitas vezes, me fez questionar meus conhecimentos e competências. Será que não sou mais tão boa quanto antes? Será que esqueci tudo o que aprendi?

Passei anos construindo minha formação: muitos diplomas (tantos que nem couberam na mala para mudar de país!), cada um representando o esforço, o suor e as lágrimas que valorizaram minha trajetória profissional. Conquistei um currículo sólido e reconhecimento no mercado de trabalho. Mas, no exterior, isso parece não ser suficiente.

A universidade que você cursou, os serviços onde trabalhou, as centenas de horas de aulas ministradas — tudo parece ser apenas detalhe diante das exigências das vagas de emprego. Aqui, não existe aquele amigo de infância que pode te indicar, o professor que se lembra de você da faculdade, ou a rede de contatos que torna as coisas mais fáceis. É preciso começar do zero: entender o mercado, se adaptar e buscar informações para se preparar melhor.

Iniciar uma carreira aos 18 anos é estimulante, cheio de possibilidades. Mas recomeçar depois dos 40, com 20 anos de formada na segunda graduação, é um exercício constante de resiliência.

Recolocar-se profissionalmente em um novo país exige aceitar que interesses e demandas profissionais podem ser bem diferentes. Isso implica recomeços: novos cursos, novos colegas, novos desafios, e o desejo de, mais uma vez, ser reconhecida pela excelência. Entender o mercado de trabalho local, sem uma rede de apoio, pode parecer uma missão impossível, mas é um caminho necessário.

Manter a motivação para estudar, enviar currículos e participar de entrevistas enquanto as contas chegam numa nova moeda redefine o que entendemos por "sobrevivência".

Diante dos obstáculos que abalam nossa segurança profissional e nos fazem pensar em desistir, é essencial persistir. Seu conhecimento e sua experiência são parte de você e têm valor onde quer que esteja. Eles podem ser adaptados e aplicados. Valorize sua trajetória e não tenha medo de arriscar.

As oportunidades surgem para quem aceita o desafio de se reinventar, mesmo quando isso dói. Hoje, eu caminho como alguém que acabou de se reinventar enquanto psicóloga em Portugal, trazendo comigo 18 anos de experiência clínica. É contraditório, mas c'est la vie.